terça-feira, 29 de maio de 2012

Monstros nossos de cada dia


Era uma vez um monstro que amou uma boneca de trapos…


Era uma vez um monstro disfarçado.
Fingia, o pobre! Que era príncipe encantado…
Correu, correu pelo pátio enfeitiçado
O feio monstro que estava amaldiçoado.

Correu o monstro que era feito de giz
Procurando a princesa iluminada.
Procurou pensando em ser feliz
Ao encontrar a princesa ainda nem desenhada…

Passou ele por mundos em segredo
Sempre correndo e já desesperando;
Até que finalmente subiu a um rochedo
E encontrou a esperança que estava faltando.

Ficou então o monstro logo muito contente
Ao encontrar o grande castelo.
“Lá haverá certamente princesa e gente,
Para amar este príncipe que é tão belo!”

Aos portões do castelo ele parou
E bem alto, gritando exclamou:
“− Venham ver este príncipe que agora aqui chegou,
Tão belo! Mas que nunca ninguém amou...”

Mas no castelo o silêncio reinou;
Nada, nem ninguém respondia…
Afinal naquele castelo nunca alguém morou;
Mas o pobre monstro que nem sabia!

Então, destemido, lá foi entrando
O grande príncipe tão corajoso.
Foi a cada canto espreitando, espreitando;
Sem saber daquele segredo misterioso

Por fim o triste príncipe lá concluiu:
Que não adiantava ter vindo de tão longe além
Pois naquele castelo há muito reinava o vazio
E nunca morou lá ninguém…

Logo o alento do monstro se perdeu
Ao perceber que iria ficar sozinho
Então a chorar o infeliz monstro correu
Até que tropeçou em algo no seu caminho

Era uma boneca, coitada muito feia
Deixada assim abandonada pelo chão;
Ao monstro deixou-lhe uma mão cheia
E aquecido o frio coração…

A pobre boneca que era de trapo
Tinha a boca cozida sempre a sorrir;
E o monstro que estava feito farrapo
Começou logo a rir!

A feia boneca fora então a primeira
Que ao triste monstro sorriu.
Talvez a única realmente verdadeira
Que alguma vez aquele príncipe viu!

Sendo princesa ou não!
Ao certo, é que o monstro ficou feliz.
Pois a boneca que tinha na mão
Amou o príncipe que era de giz…

(Assim foi a história de amor;
Entre o príncipe que era monstro tal
E a linda boneca de trapos sem cor…
Que se amaram pelo que eram afinal!)

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